Adolescentes: ame-os e não os deixe!
- Dra Marcela Cavalcanti
- 14 de jul. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 20 de jul. de 2021

Algumas mães e pais às vezes se pegam “odiando” seus filhos adolescentes.
Eles estranham a maneira como os "aborrecentes" defendem suas idéias a respeito de assuntos como igualdade racial, questões de gênero e a “masculinidade tóxica”. Os pais precisam conviver com uma cabeça que pensa por si, com gostos musicais peculiares, ídolos “bizarros”, posição política diferente da família. Agora tem a "moda" do “ativismo”, como me disse um pai em uma consulta, angustiado com a rapidez que sua menininha tomou "ares de gente grande"..
Esses pais e mães nem sempre conhecem os assuntos de interesse de seus filhos, como os animes, games, séries, YouTubers ou influentes.. Muitos não sabem o que crianças e jovens andam assistindo, ouvindo ou assimilando. Percebem seus meninos e meninas submissos a uma cultura geracional incrível e também predatória. Parece um tsunami de informações e conteúdos ideológicos para ser digerido sem que sejam assimilados com maturidade e engolidos de qualquer jeito sem que os pais tenham tempo de concordar ou discordar, orientar, portanto nem sempre tem sido fácil.
Além da exposição digital a todo e qualquer assunto, os adolescentes parecem ter mais acesso ao álcool, maconha, drogas sintéticas, tabaco. Comportamentos como compulsão, sintomas como ansiedade e depressão, e acesso à violência, abuso, assédio, competitividade tóxica parecem causar um vazio existencial, apatia, solidão, indiferença, medo, insegurança, carência. Resta saber o quanto de tempo, atenção, compreensão, afeto, apoio, presença, disponibilidade, cuidado, carinho, amor e aceitação de seus pais e mães estes adolescentes têm tido, para conseguir lidar com tudo isso.
Pais e mães se queixam que seus filhos se escondem nos seus “quartos-bolhas-prisões” e não querem interagir. Percebem os adolescentes como indiferentes, egoístas, solitários, desorganizados, imediatistas, com pouca autonomia e nenhuma colaboração nas tarefas da casa. A pandemia deixou isso mais evidente para os pais e mães que puderam trabalhar em casa, mas nem porisso, se perceberam mais presentes na vida desses jovens.
Na contra mão da ausência, os pais e mães compram melhores computadores, vídeo games, celulares, roupas temáticas, tênis de marca e permitem que consumam alimentos calóricos, ultraprocessados, ou nem façam as refeições em horário e local apropriado. Permitem que fiquem acordados até tarde com seus celulares e não durmam o suficiente. Permitem que não se exercitem e fiquem sedentários e obesos. Infelizmente, até a ficha cair, os pais e mães permitem para depois perceber os excessos e prejuízos desses hábitos pouco saudáveis na saúde física e mental de seus filhos.
Adolescente é um bicho diferente 😉💛
Muitos pais se sentem angustiados pois nem sempre é fácil lidar com esses "bichos diferentes" dentro de suas casas, instalados nos seus quartos com seu mundo paralelo. Esses adultos se sentem perdidos e frustrados e, muitas vezes, não reconhecem a atitude que levou ao cenário de afastamento dos seus filhos e a dificuldade para compreendê-los e aceitá-los.
Diante da “culpa inconsciente”, alguns podem sentir raiva e iniciar uma rejeição silenciosa ao ignorá-los. Na “falta de jeito” para abordá-los, aumentam os episódios de brigas e discussões que se tornam frequentes e dramáticas.
Os pais começam a “odiar” seus filhos e filhas pois não sabem lidar com eles e se sentem impotentes.
A geração que está atualmente entre os 12 e 21 anos, necessita do acompanhamentos de psicólogos e psiquiatras infantis e do tratamento com ansiolíticos, antidepressivos e psicoestimulantes. Há uma incidência maior de sintomas mentais e comportamentais que as gerações anteriores.
É importante o reconhecimento e tratamento das condições e prescrição de medicamentos quando necessário, porém, esse adoecimento mental cada vez mais precoce requer mais atenção.
Acredito que pais e mães desta geração Z estão em processo de amadurecimento continuo para dar nortear seus filhos adolescentes. Embora pareçam "sabidos", eles ainda necessitam de um capitão para seus navios à deriva em mares muito agitados e tempestuosos como os desses tempos.
E qual seria uma rota segura e possível?
Os pais e mães sabem a resposta e me surpreendem todos os dias nas consultas que me baseei para delimitar aqui alguns pontos de ajuste que podem ajudar.
👉🏽Um olhar mais sensível e menos crítico sobre os filhos.
👉🏽O interesse genuíno pelos assuntos, jogos, séries e ícones preferidos .
👉🏽Ouvir as músicas que os filhos ouvem para entender a mensagem dessa geração sem ter que concordar ou discordar.
👉🏽Tentar ser menos preconceituosos e mais tolerantes, abertos e democráticos.
👉🏽Perceber como os adolescentes sentem e vivem a realidade, com menos resistência,
👉🏽Evitar os modelos copiados do passado,
👉🏽Ter disponibilidade para criar novas estratégias ao estabelece os limites, os combinados e rotinas saudáveis.
O mundo está mais dinâmico, as mudanças acontecem rápido e exigem mais fluidez, criatividade, abertura e acolhimento. E essa readequação também gera pais mais preparados e seguros.

Precisamos mais de “venha aqui meu filho que estou com saudade de sentir seu cheirinho” ou “quero assistir a série que você mais gosta, minha filha, para deitarmos juntas no sofá” que “faça do meu jeito, seja o que eu espero”.
Respirar fundo, ter calma e paciência não é fácil em alguns momentos. Mas os filhos e filhas de todas as gerações têm as mesmas necessidades: querem ser aceitos, amados incondicionalmente, acolhidos e respeitados nas suas escolhas e opiniões. Há uma necessidade universal, uma ferramenta básica e essencial que é a flexibilidade. Vale a pena ter um terceiro jeito, nem o meu, nem o seu, mas o plano C, com humildade, leveza e gentileza.
Uma reflexão profunda e uma determinação sincera são importantes para que o diálogo possa ser possível e o vínculo se baseie no respeito e no amor, e não no estranhamento e ódio por nossos adolescentes.
Vamos pensar nisso?
Quer compartilhar uma dica ou experiência que pode ajudar outras famílias a lidar com essa fase tão desafiadora que é a adolescência?
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