Poucas coisas afetam mais a saúde mental do que o sono. O sono ruim ou insuficiente piora quase todos os problemas psicológicos. Em casos extremos, pode ser a causa do problema. Com o Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH), essa ligação é óbvia e complicada, porque há várias maneiras pelas quais o sono e o TDAH afetam um ao outro.
Os distúrbios do sono causados pelo TDAH nem sempre são compreendidos desde o diagnóstico e durante o curso do tratamento. Estudos recentes confirmam que os sintomas de TDAH não desaparecem à noite.
Quer entender como o TDAH está vinculado a problemas no sono e suas manifestações mais comuns? Além disso, aqui você terá algumas dicas para relaxar mais rapidamente, dormir por mais tempo e acordar com mais saúde.
TDAH e problemas de sono
Os adultos com TDAH raramente adormecem com facilidade, dormem profundamente durante a noite e depois acordam sentindo-se revigorados. Mais frequentemente, a inquietação mental e física do TDAH perturba os padrões de sono da pessoa – e a exaustão resultante prejudica a saúde geral e o tratamento. Estamos apenas começando a entender a ligação entre o TDAH e o sono. Assim como o TDAH não desaparece na adolescência, também não desaparece à noite e pode prejudicar a vida 24 horas por dia.
Por enquanto, os problemas de sono tendem a ser negligenciados ou vistos como problemas coexistentes com uma relação pouco clara com o próprio TDAH e com a fadiga mental tão comumente relatada por indivíduos com TDAH. Distúrbios do sono têm sido atribuídos incorretamente aos medicamentos da classe dos estimulantes, que geralmente são os primeiros a serem usados para tratar o TDAH.
Os quatro grandes problemas de sono do TDAH
Nenhuma literatura científica sobre o sono lista o TDAH como uma causa proeminente de distúrbios do sono. A maioria dos artigos se concentra em distúrbios do sono devido a medicamentos estimulantes, em vez de considerar o TDAH como a causa. No entanto, os adultos com TDAH sabem que a conexão entre sua condição e os problemas de sono é real. Os sofredores costumam chamá-lo de "sono perverso" - quando querem dormir, estão acordados; quando querem estar acordados, estão dormindo.
Os quatro distúrbios do sono mais comuns associados ao TDAH são:
1. Dificuldade em adormecer com TDAH
Cerca de três quartos de todos os adultos com TDAH relatam incapacidade de “desligar a mente para que possa dormir à noite”. Muitos se descrevem como “notívagos” com explosão de energia quando o sol se põe. Outros relatam que se sentem cansados ao longo do dia, mas assim que a cabeça encosta no travesseiro, a mente começa a funcionar. Seus pensamentos saltam ou pulam de uma preocupação para outra. Infelizmente, muitos desses adultos descrevem seus pensamentos como “acelerados”, levando a um diagnóstico errôneo de transtorno de humor, quando isso nada mais é do que a inquietação mental do TDAH.
Antes da puberdade, 10 a 15% das crianças com TDAH têm dificuldade para dormir. Isso é o dobro da taxa encontrada em crianças e adolescentes que não têm TDAH. Esse número aumenta dramaticamente com a idade: 50% das crianças com TDAH têm dificuldade em adormecer quase todas as noites aos 12 anos e aos 30 anos, mais de 70% dos adultos com TDAH relatam que passam mais de uma hora tentando adormecer à noite .
2. Sono Inquieto com TDAH
Quando os indivíduos com TDAH finalmente adormecem, seu sono é inquieto. Eles pensam demais, se movimentam, rolam na cama. Acordam com qualquer barulho e são tão inconstantes que os parceiros de cama muitas vezes optam por dormir em outra cama. O sono não é revigorante e eles acordam tão cansados quanto quando foram para a cama.
3. Dificuldade em acordar com TDAH
Mais de 80 por cento dos adultos com TDAH relatam vários despertares até cerca das 4 da manhã. Então eles caem no “sono dos mortos”, do qual têm extrema dificuldade em acordar. Pessoas que dormem com TDAH podem ficar irritados e muito reativos quando acordadas antes de estarem prontas. Muitos dizem que não estão totalmente alertas até o meio-dia.
4. Sonolência durante o dia
Pessoas com TDAH quando perdem o interesse por uma atividade, ou precisam fazer grande esforço para se manterem alertas, podem apresentar cansaço no meio do dia. Às vezes, esse desligamento é tão abrupto que induz uma sonolência extrema e repentina e necessidade de sonecas no meio do dia e das atividades.
Por que as pessoas com TDAH têm problemas para dormir?
Existem várias causas para os problemas do sono em pessoas com TDAH e devem ser consideradas desde o início do diagnóstico.
Os distúrbios do sono podem ser indicativos de problemas de excitação e estado de alerta no próprio TDAH, como organizar e ativar o cérebro para iniciar as atividades de trabalho, além da dificuldade em manter o estado de alerta, energia e esforço.
Parece ocorre uma deficiência baseada no desenvolvimento das funções de gerenciamento do cérebro – particularmente, uma deficiência da capacidade de sustentar e regular a excitação e o estado de alerta. Uma abordagem dupla que enfatiza uma melhor higiene do sono e a supressão de estados de excitação indesejados e inconvenientes usando medicamentos com propriedades sedativas pode auxiliar.
A explicação mais simples é que os distúrbios do sono são manifestações diretas do próprio TDAH. A maioria das mulheres não tem a hiperatividade clássica mas experimenta a inquietação mental e física do TDAH quando está tentando desligar o estado de excitação do funcionamento do dia-a-dia para adormecer.
Pelo menos 75 por cento dos adultos de ambos os sexos relatam que suas mentes se movem incansavelmente de uma preocupação para outra por várias horas até que finalmente adormeçam. Mesmo assim, eles se reviram, acordam com frequência e, às vezes, mal dormem.
DICAS PARA DORMIR MELHOR
A “Higiene do Sono”, considera todas as coisas que promovem o início e a manutenção do sono. Este conjunto de condições é altamente individualizado. Algumas pessoas precisam de silêncio absoluto. Outros precisam de ruído branco, como um ventilador ou rádio para mascarar os distúrbios do sono. Algumas pessoas precisam de um lanche antes de dormir, enquanto outras não podem comer nada antes de dormir. Porém, algumas regras de higiene do sono são universais:
1. Use a cama apenas para dormir, não como um lugar para discutir problemas
2. Procure acordar e dormir todos os dias no mesmo horário, mesmo em finais de semana e organize-se para poder dormir pelo menos 7-8 horas diárias;
Não vá para a cama se não estiver com sono
3. Evite cochilos durante o dia
4. Evite cafeína no período da tarde e à noite. A cafeína pode fazer com que um cérebro com TDAH acelerado se torne mais excitável e alerta. A cafeína também é um diurético, embora não seja tão potente quanto os especialistas pensavam, e pode causar distúrbios do sono causados pela necessidade de ir ao banheiro.
5. Evite o consumo de líquidos pouco antes de dormir. Não coma comidas pesadas e em grande quantidade antes de ir dormir;
6. Não utilize eletrônicos próximo ao horário de ir dormir (no mínimo 30 minutos antes), pois a luz emitida por eles atrapalha o sono
7. Seu quarto deve ser silencioso e totalmente escuro;
Não coma comidas pesadas e em grande quantidade antes de ir dormir;
8. Faça exercícios físicos regularmente.
QUANDO USAR MEDICAMENTOS PARA O SONO EM PESSOAS COM TDAH?
Medicamentos para dormir são potencialmente viciantes e podem ter efeitos colaterais que incluem sonolência e ressaca no dia seguinte, piorando os sintomas do TDAH.
As pessoas rapidamente desenvolvem tolerância a eles e requerem doses cada vez maiores em medicamentos indutores do sono. Alguns são mais benéficos e têm pouco risco de efeitos colaterais e tolerância, porém, apenas o médico especialista poderá definir o melhor para casa caso.
Melatonina.
Este peptídeo natural liberado pelo cérebro em resposta ao pôr do sol tem função em ajustar o relógio circadiano. Está disponível sem receita médica na maioria das farmácias e lojas de produtos naturais. Quase todas as pesquisas publicadas sobre a melatonina são em doses de 1 mg ou menos, mas as doses disponíveis nas prateleiras são de 3 ou 6 mg. Nada é ganho usando doses maiores que um miligrama. A melatonina pode não ser eficaz na primeira noite, portanto, o uso de várias noites pode ser necessário para a eficácia.
Periactina. O anti-histamínico prescrito, ciproheptadina (Periactin), funciona como Benadryl, mas tem as vantagens adicionais de suprimir os sonhos e reverter a supressão do apetite induzida por estimulantes.
Clonidina. Alguns médicos recomendam uma dose de 0,05 a 0,1 mg uma hora antes de dormir. Este medicamento é usado para pressão alta e é a droga de escolha para o componente de hiperatividade do TDAH. Exerce efeitos sedativos significativos por cerca de quatro horas.
Antidepressivos tendem a produzir sedação no dia seguinte e podem tornar o despertar na manhã seguinte mais difícil do que antes.
Problemas para acordar com TDAH
Problemas para acordar e sentir-se totalmente alerta podem ser abordados de duas maneiras. O mais simples é um sistema de dois alarmes. O paciente coloca uma primeira dose de medicação estimulante e um copo d'água ao lado do leito. Um alarme é programado para disparar uma hora antes da pessoa realmente planejar se levantar. Quando o alarme toca, o paciente acorda o suficiente para tomar a medicação e volta a dormir. Quando um segundo alarme dispara, uma hora depois, o medicamento está se aproximando do nível sanguíneo máximo, dando ao indivíduo uma chance de conseguir sair da cama e começar o dia com mais facilidade.
Problemas para dormir também podem se relacionar ao uso de psicoestimulantes e devem ser avaliados caso a caso, pois o tratamento do TDAH pode até melhorar a qualidade de sono. Falta de atividade física, excesso do uso de telas, ansiedade e depressão também se relacionam com as dificuldades para dormir.
Como a medicação para TDAH afeta o sono?
O sono ruim pode resultar do uso de medicamentos para o TDAH, complicando o tratamento. O objetivo da medicação estimulante é estimular a parte do cérebro que concentra a atenção. Isso é o oposto do que precisamos quando é hora de pegar no sono. No entanto, para algumas pessoas com TDAH, os estimulantes ajudam a dormir. Para muitos outros, a insônia antecede o uso de estimulantes, o que é outro motivo para avaliar os problemas de sono antes que qualquer medicamento seja prescrito. Se alguém é avisado de que o sono pode ser prejudicado por um estimulante, fica preocupado com o sono e pode perceber que não é muito bom. Isso torna mais fácil culpar o estimulante, em vez de um distúrbio crônico do sono. Muitos adolescentes compensam o sono ruim tirando sonecas. Depois de iniciar um estimulante, a pessoa pode não conseguir tirar uma soneca com tanta facilidade ou profundidade.
Por outro lado, se a pessoa não teve problemas de sono antes, não cochilou demais, começou a perder o sono após o início da medicação e não voltou a dormir melhor em duas ou três semanas, deve ser avaliado. Uma estratégia comum é interromper os estimulantes e/ou mudar para um não estimulante para o TDAH. Se os estimulantes estiverem funcionando, preferimos mexer em seu tempo e liberação para melhorar o sono. Na maioria dos casos, tratar diretamente o problema do sono é uma solução melhor a longo prazo do que eliminar o estimulante e parar o tratamento.
É importante o médico compreender a fisiopatologia do TDAH, ter experiência com manejo das medicações para definir as estratégias mais específicas para ajudar a garantir um sono saudável e de qualidade ao longo do tratamento.
Tem alguma dúvida ou sugestão? Deixe seu comentário, salve ou compartilhe este artigo se acha que pode ajudar alguém a dormir melhor.
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